Cultura e Mercado
Alguém que escreva uma poesia e a deixe na gaveta não está sujeito às dificuldades impostas pelo mercado cultural, embora tenha produzido arte. O consumo do produto artístico é o elo mais importante do processo na medida em que o artista deseja que seu produto seja apreciado pelo público e espera dessa forma remunerar-se para suprir as necessidades de sobrevivência e reinvestimento na própria atividade. Nessa condição a cultura tende a sofrer os efeitos de mercado: Concorrência, distribuição, preço, promoção, etc.
Em uma sociedade global hegemonicamente capitalista, o artista é considerado “profissional”, cujo sentido explicita um local social definido dentro de uma divisão do trabalho: Ele produz arte, tal qual o marceneiro fabrica móveis. De fato o artista não se iguala em todos os aspectos aos demais profissionais. Não se aprende o ofício de artista tal qual se pode conquistar a formação em engenharia pela simples decisão de carreira. É verdade que o aperfeiçoamento das habilidades acontece ao longo da vida do artista, seja através da formação em instituições de ensino ou em estudos autodidatas, mas é imprescindível um talento anterior ligado principalmente à sensibilidade artística, que se supõe nata.
Para solucionar essa incongruência presente no artista, sua sensibilidade tendo que conviver e adaptar-se às racionalidades que regem a economia, séculos atrás surgiu o mecenas, aquele que com sua fortuna incentivava os artistas através da salvaguarda financeira.
Hoje o papel do mecenas é substituído pela regulamentação do estado que institui proteção e preservação dos bens culturais e incentiva atividades artísticas através de recursos públicos. Mais recentemente as leis de incentivo à cultura recolocaram nas mãos da iniciativa privada as decisões de investimento artístico ofertando o benefício fiscal como atrativo. Em grande parte as chances de viabilidade financeira do produto cultural ou está na captação de recursos privados (doações ou investimento em marketing) ou é possível através dos recursos públicos.
Sabendo que as demandas culturais são maiores que os recursos públicos disponíveis, a produção cultural volta-se cada vez mais para soluções privadas. Dentre elas o marketing cultural é o que está em evidência, talvez pela própria promoção que as leis de incentivo fizeram dele.
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